segunda-feira, 31 de março de 2008

Esperança

Li este testemunho aqui e, de tão belo, apesar de duro, achei que tinha que partilhá-lo sobretudo com aqueles que, como eu, às vezes precisam de encontrar novas forças para prosseguir a missão.

Hope
19-10-2007
Quando casei em Setembro do ano 2000 estava decidida a ficar grávida assim que a natureza quisesse. Mal regressei da lua-de-mel deixei de tomar a pílula com a firme convicção que comigo era "tiro e queda". O grande sonho da minha vida sempre foi o de ser Mãe e de preferência de cinco! Ao fim de três meses sem qualquer contracepção já chorava quando que me vinha o período. Decidi então marcar uma consulta para o ginecologista que me seguia na época. Fiz as análises da praxe, o meu marido o primeiro de muitos espermogramas. Fomos aconselhados a "treinar" (palavra odiosa...) porque ainda era muito cedo para exames mais detalhados. Foi a primeira fase difícil na minha luta contra a infertilidade, a época em que comprava testes e mais testes de gravidez, a época de contar os dias, as horas, de devorar calendários e de chorar, sempre desalmadamente, a cada tracinho que não aparecia, a cada caixa de pensos higiénicos que comprava, sempre no próprio dia para não dar azar... Passaram sete meses desde a consulta, o que para mim já era tempo demais. Marquei nova consulta e disse ao médico que queria fazer os tais exames mais detalhados. Eu já tinha 29 anos e o meu marido 37. Achava que estava a lutar contra o tempo. Tive sorte! O médico deu-me ouvidos e encaminhou-me logo para o Prof. Alberto Barros, no Porto. Se eu queria fazer exames então que os fizesse no sítio certo.
Nunca me esquecerei do dia em que conheci o Professor. Se fechar os olhos ainda consigo sentir o calor da mão que apertei, o carinho, a compreensão, o brilho do olhar, a calma, a confiança, a intensidade do perfume inconfundível a que é fiel. Lembro-me das palavras, dos conceitos, das explicações. Sobretudo, consigo recordar a enorme esperança que nos transmitiu e que se renovava a cada encontro, a cada sorriso, a cada olhar. Quando posteriormente conheci a equipa, médicos, biólogos, enfermeiras, recepcionistas, que trabalha na clínica, senti que a esperança se renovava em cada um deles. Iniciei então a saga das análises, histerosalpingografia, histeroscopia, cariótipos, espermogramas, ecografias e ao fim de 2 meses fiz a primeira estimulação. Como não havia qualquer impedimento à gravidez (ambos somos férteis) subimos a pulso todos os estádios da PMA. Em apenas dez meses submeti-me a quatro estimulações e três IA, sem sucesso. Fazíamos parte daquela pequena percentagem de casais que sofrem de infertilidade inexplicada. O próximo passo seria a FIV.Aqui as expectativas foram novamente elevadas. Como não havia qualquer explicação para a nossa infertilidade acreditei que na FIV eu ia engravidar DE CERTEZA! Não foi assim. A FIV correu mal. Por qualquer motivo que mais uma vez ultrapassava o conhecimento científico possível (não é permitida a experimentação em casos clínicos), os espermatozóides não conseguiram fecundar o ovócito ou foi este que não se deixou fecundar, não sabemos, e foi feita uma ICSI de emergência. Resultaram três embriões, fraquinhos, transferidos ao terceiro dia. Avisaram-nos logo que uma gravidez seria pouco provável. No dia em que menstruei não tive qualquer reacção. Já sabia que o nosso sonho ia ser adiado, mas por pouco tempo. Três meses depois já estava a preparar-me para a primeira ICSI completa, que correu lindamente e resultou no meu primeiro positivo. No dia da BHCG já tinha algumas perdas de sangue que podiam, no entanto, ser normais. Com o resultado na mão telefonei ao meu marido, fui ter com ele e disse-lhe que ia ser Pai. Assim, sem mais nem menos: Vais ser Pai! E ele abraçou-me como se lhe tivesse dado a Lua de presente.
Não foi, não aconteceu assim. E então eu desesperei. Zanguei-me com o mundo, zanguei-me com Deus. Baixei os braços e olhei à minha volta: Era o deserto. Na minha luta contra este monstro invisível eu tinha-me esquecido de tudo o resto. Tinha esquecido os amigos, tinha negligenciado o trabalho, mas acima de tudo tinha-me esquecido de mim. Tive que reaprender a olhar à minha volta e não apenas para o meu umbigo. Foi a segunda fase difícil que passei. Nunca estive tão perto de desistir como então. Estive oito meses a recuperar forças, a reconstruir laços, a lamber as feridas, as minhas e as dos outros. Voltei a sair, a divertir-me, a beber um copo de vinho se me apetecesse, a viajar sem adiamentos. Deixei de adiar o que quer que fosse por causa dos tratamentos. Estes é que tinham que esperar se fosse preciso! Dei a volta por cima e voltei a ser eu a dona do meu nariz.
Quando decidi que estava pronta, avancei, sem medos e com os pés bem assentes na terra. Eu tinha um sonho grande e difícil de alcançar. Desistir de engravidar significava para mim desistir do sonho da minha vida. Durante todo o percurso tive consciência que o meu sonho poderia não se concretizar, mas no entanto tinha também a certeza que não queria, um dia mais tarde, olhar para trás e arrepender-me de não ter tentado. Eu queria olhar para trás e ver que fiz TUDO o que estava ao meu alcance para o realizar. Só assim poderia viver em paz comigo própria e com quem me acompanha pela vida.
Meti então pés ao caminho e fiz uma terceira ICSI que nem ilusões nos permitiu ter: apesar do Utrogestan, nem um dia o período se atrasou. Na quarta ICSI (hiper estimulada) a única coisa positiva foi termos pela primeira vez conseguido congelar três blastocistos!
Quando transferimos estes “congeladitos”, um deles campeão, não tínhamos muita esperança numa gravidez. Sabíamos que as percentagens de sucesso eram bem menores nestes casos e por isso mesmo estive sempre muito tranquila na minha espera. À medida que se aproximava o “dia Beta” a ansiedade ia aumentando devagarinho, até porque, para além de não ter indícios de menstruação, achava eu que tinha sintomas de gravidez. Era o peito dorido, os mamilos mais escuros, os cheiros que me incomodavam, uma ou outra tontura… Convenci-me que estava grávida! Fui fazer a análise e pedi por tudo para que ma entregassem às duas da tarde porque não ia aguentar muito mais tempo. Pouco passava das duas quando o meu marido me telefonou a dizer que afinal a análise só estaria pronta às cinco. O que eu não sabia é que o resultado tinha sido negativo e que ele obrigou o laboratório a fazer uma contra-análise porque só se podiam ter enganado. Se eu estava grávida o resultado não podia ser aquele… Quando depois das cinco, ele entrou em casa, chorámos os dois convulsivamente até esgotarmos todas as lágrimas.
Quando na quinta ICSI o resultado foi novamente negativo estive muito perto de desistir. Fui invadida por uma enorme frustração que me sufocava. Não por mais uma vez não estar grávida, nem por ter que fazer tratamentos se queria engravidar, nem por ser o meu décimo terceiro tratamento, nem por nada do que passei e continuava a passar. O que me esmagava era não saber o porquê. Se estava tudo sempre tão bem porque é que o meu positivo não chegava?? Estava cansada de lutar contra o monstro invisível da infertilidade. Sentia que me faltavam as forças para continuar...
Decidi tirar mais umas férias de tratamentos. De vez em quando era preciso voltar a ter uma vida normal.

Quando me senti preparada para avançar para mais um tratamento, o décimo quarto, pedi ao meu médico assistente para voltar a repetir alguns exames. Queria ter a certeza que continuava fisicamente bem ao fim de três anos e tal de tratamentos em regime intensivo. Foi o melhor que fiz. Na histeroscopia descobriram-me um mioma no canal cervical, mesmo perto do colo do útero, que, nas palavras do médico, não era impeditivo de gravidez, mas, pelo sim pelo não, achava que era melhor que eu fosse operada.
Fui então internada e o mioma foi retirado. Aguardei 2 meses e parti para a sexta ICSI cheia de esperança.

Foi então que o meu sonho tomou forma. O meu positivo chegou com números expressivos. Eu estava finalmente grávida e o mundo ficou, de repente, ainda mais bonito.É uma sensação tão plena que é impossível de descrever…

Quando o Francisco nasceu, depois de uma gravidez tranquila, eu chorei primeiro de alívio e só depois de felicidade. Não descansei enquanto não ouvi os seus primeiros vagidos, enquanto não tive a certeza que o meu menino estava bem e cheio de vontade de viver!
Este bebé é de todos aqueles que acreditaram nele. É dos médicos que me incentivaram, é dos biólogos que me ensinaram a acreditar sempre, é todos aqueles que sempre tiveram uma palavra amiga. E é muito de todas as minhas amigas, reais e virtuais, que sempre estiveram ao meu lado a darem-me força quando eu precisei, que me ajudaram a limpar as lágrimas quando elas caíam e que se riram comigo à gargalhada tantas vezes!

Hoje, ao olhar para trás, apesar de ter muitas vezes fraquejado, digo que passava por tudo de novo. Ter este meu filho em casa, após cinco longos anos de espera, faz com que tudo o que passou se esqueça!

A todos os que lerem este meu testemunho, gostava de deixar uma palavra de força e de esperança. Gosto de pensar que o céu está cheio de pequenas estrelas que Deus nos vai enviando devagarinho. Só que há umas estrelinhas mais especiais, das quais Ele gosta tanto que Lhe custa separar-se delas. Essas, são as que um dia vos vão chamar MÃE.

Joana Rebelo Reis (HOPE)

Exames

E o primeiro dia útil da semana e do pós-férias foi profícuo.
O Joca já fez o exame que lhe competia, sem recurso às revistas "lamentáveis", disse ele, e garantiu que "despachou" o assunto sem problemas. "Três dias de abstinência devem ter ajudado", disse eu. Parece que sim.
Quanto ao resultado, chega à nossa caixa de correio dentro de dez dias.

O meu exame - a tal histerosalpingografia - também está marcada. Dia três, às três. Começo a recear a dor, confesso. Venha de lá um Trifene antes e outro depois. É por uma belíssima causa.

(É verdade! No dia 25, naquele que deveria ser o meu primeiro dia difícil, a A. deu à luz. Admito estar com uma inveja boa dela. Há disso, não há? Estes primeiros momentos entre os dois devem ser deliciosos. Anseio pelos meus.)

De volta

A semana de férias correu maravilhosamente, o tempo meteorológico esteve óptimo, o outro, o físico, voltou a trazer-me a visita mensal do que se esperava depois de um ciclo sem ovulação.

Foram longos dias e noites de sorrisos e cumplicidades, de paz e gargalhadas, de descanso e passeios, de namoro e felicidade.

Foram também alguns os momentos de silêncio e contemplação.

Foram dias bons, inspiradores para os que aí vêm. Tão inspiradores quanto este ninho de cegonha que avistámos em Alcácer do Sal numa viagem lenta pelo IC1 que elegemos para nos fazer regressar de forma doce.



Boa semana.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mas não vou

Sem antes dizer que, anteontem, uma viagem de 600 quilómetros teve o magnífico resultado de me abrir os horizontes ao fazer-me ver que, independentemente dos objectivos, não posso deixar que a vida me passe ao lado.

Agora sim, semana santa...

A desligar os motores


Só falta este dia de trabalho para entrar de férias.
Vai ser uma semana inteirinha de descanso lá para as bandas dos Algarves.
Por isso, se passarem pelo Carvoeiro e virem uma morena alta, três míseros centímetros mais alta do que o rapaz de óculos que a abraça, há fortes possibilidades de ser eu.

Boa Páscoa!

terça-feira, 18 de março de 2008

Nascerá

Deus quer, o homem pensa, a obra nasce.
Fernando Pessoa

(No último teste e ao 22.º dia do ciclo, nem um sinal)

segunda-feira, 17 de março de 2008

O futuro no passado

Lembro-me daquele dia, há muitos anos, uns dez, talvez, quando acompanhei uma amiga à "consulta" na senhora que punha e lia cartas. Essa minha amiga – das grandes, por sinal – estava obviamente fragilizada por um casamento fracassado e ia ali em busca de respostas sobre o futuro e indicações de caminhos a tomar.
Lembro-me que também eu, nessa mesma altura, não me encontrava na melhor das formas mentais devido a uma relação atribulada que, mais do que em nada, deu em muitas lágrimas e profundos momentos de tristeza. Acho agora que a obsessão é aquilo. Felizmente, foi como veio. Num estalar de dedos.
Mas, como estava dizendo, lembro-me que lá fomos as duas àquele "consultório" manhoso na Baixa da cidade para recebermos da voz alta de uma terceira as respostas que achávamos necessitar para apaziguar a alma.
Lembro-me de todas as interpretações dadas a cada uma das cartas que fomos escolhendo. Aleatoriamente, talvez.
Lembro-me da estranheza e do cepticismo com que as escutava.
Porém, nos dias que correm, lembro-me mais vezes de me ter sido pressagiado que seria mãe de dois filhos. Um perderia, facto já consumado, e o outro iria chegar, mas não sem antes dar muito trabalho.

Só isso.

O

Ao 20.º dia, idem, idem, aspas, aspas.
Só sobra um teste e está destinado para amanhã.
Parece que este mês já foi...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Bom fim-de-semana

Confesso que estou a sentir os braços a baixar. Sei, porém, que o cansaço da longa semana de trabalho está a empurrá-los mais para a terra.
Vou tratar de pensar nas jantaradas que tenho hoje e amanhã e afastar a nuvem negra que me ensombra a cabeça e os pensamentos. Hasta.

O

Ao 18º dia, nada. Ovulação-zero.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Ainda a propósito do aniversário

De mim para ele

Dele para mim
Hmmmm...

quarta-feira, 12 de março de 2008

O *

Ao 16.º dia do ciclo, e apesar de sentir uma presença mais acentuada do "muco", o teste continua a não detectar a ovulação.

* é o que aparece no visor do aparelhómetro quando o resultado é negativo. O positivo é assinalado com um smile.

terça-feira, 11 de março de 2008

2 como nós

Começou assim, como hoje, com chuva, com um dia a preto e branco.
Foi esse o cenário que se me apresentou quando fiz a viagem de casa ao local de embelezamento quase tribal.
À saída, em cima da hora, o sol prenunciava-me uma cerimónia e uma vida iluminadas. E assim foi. Assim tem sido. O sol tem estado do nosso lado.

Faz hoje dois anos que te tornaste a principal testemunha da minha vida.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Depois de um fim-de-semana em paz

Há que começar ao ralenti.

Para que conste, começámos o fim-de-semana a jantar maravilhosamente no «Carvalheira». Destaco as entradas (pimento assado, cogumelos, favas com chouriço, entre muitas outras que preterimos) e o licor de café que nos ofereceram no fim. O solomillo era igualmente de grande nível.
No sábado e depois de um bom pequeno-almoço (o que eu gosto de pequenos-almoços de hotel), apreciámos o bonito cenário do centro histórico de Ponte de Lima onde não resisti ao piscar de olhos de um "Disco" lançado da montra da pastelaria «Havaneza». (São pasteis idênticos aos Jesuítas, mas, redondos, claro está, em forma de disco)
Seguimos para o hotel onde nos banhámos na piscina e eu recebi uma massagem na costas que me deixou a planar. Fechámos a porta do health club depois de uns minutos bem passados no escaldante (45º) banho turco.
Deixámos depois repousar os corpos até à hora da aula de equitação do Joca. Era a primeira vez que ele subia ao dorso de um cavalo, mas nem parecia, tamanha foi a elegância e segurança com que se deixou levar no alto da bicha.
Prosseguimos o dia com uma caminhada e encerrámos o programa das festas com outro jantar no recomendável «Açude», ali mesmo em frente ao Lima.
O domingo começou lentamente com a primeira refeição do dia e com umas braçadas na piscina.
O jaccuzi também chamou por nós, mas o apelo do banho turco foi mais convincente.
A viagem de regresso fez-se como tudo o resto, paulatinamente, à velocidade de quem estava em paz.

Segundo os testes feitos no sábado e hoje de manhã, ainda não ovulei e já estou no 14.º dia do ciclo.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Bom fim-de-semana

No final do dia rumamos a Ponte de Lima. E, com aquela vila aqui tão perto, não é que é a minha primeira vez?
Vamos encontrar-nos lá com um casal amigo que tem uma miúda tão linda quanto pequenina e que também deu trabalho para vir ao mundo (foram sete anos para chegar à barriga da mãe, imaginem!)
Deposito muita confiança nestes dias de descanso.
O saco de viagem ainda não está feito, mas já enfiei na cabeça que não posso esquecer-me do fato e dos calções de banho e da touca para a piscina interior, das toalhas para o banho turco (isso talvez deixe. Ocupa muito espaço e lá no hotel têm uns toalhões bons e giros, de certeza), as raquetes para o ténis e corpos muito moídos para a massagem. Ah! Também não pode falhar-me o teste de ovulação e as vitaminas.
Acrescente-se às actividades supra-citadas (e muito namoro, incluído), uns belos repastos minhotos e um vinho verde do qual espero vir a tornar-me maior apreciadora. (É que eu sou rapariga de tintos e de preferência alentejanos)

Falta dizer que vamos ficar aqui.

I'll let you know

É o que dá levar o marido à ginecologista

Esqueci-me de contar que no final da consulta de quarta-feira, a assistente da médica apresentou-me a conta dizendo: "São 25,50 euros". Estranhei o valor pois, com o seguro, a coisa costuma ficar por 15 euros. No entanto, por razões que me eram alheias e sem querer indagá-las(ao contrário do que me é habitual), estiquei as notas à senhora, pois claro, que ali não há disso de multibancos. (nem se fia)
No final da transacção, a mesma funcionária recebeu uma chamada interna da doutora que a informou que, afinal, "era só a consulta", o que significava que tinha que devolver-me os 10,50 excedentes. Entre pedidos de desculpa e carimbos nos recibos, a senhora lá me esclareceu que tinha aumentado o valor da factura por pensar que eu tinha feito "a" ecografia.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Cá vai...

Chegados à hora certa, ansiosos, esperámos um bom bocado para sermos atendidos.
O Joca, por causa do trabalho amontoado que tinha deixado e do adiantado da hora ia deitando os bofes pela boca, enquanto cruzava e descruzava as pernas, virava as páginas das revistas cor-de-rosa ou analisava a arte que se espalhava pelas paredes. Eu, como já sabia que a doutora nunca atende a horas, nem mesmo nas primeiras consultas da tarde, deixei-me estar aparentemente descansada a folhear as publicações com as novidades de nuestros hermanos.
Às 15h20, mais coisa, menos coisa, foi a própria médica quem, com um sorriso, me chamou. Respondemos entrando para o gabinete e esperando que ela chegasse. Chegou.
- Então?
- Nunca tinha trazido o meu marido...
- Pois não.
- ... mas desta vez veio comigo. É que, sôtora, estamos a tentar há um ano e ainda não conseguimos.
- Já há um ano? Hmmm.
- Sim, desde Janeiro do ano passado.
- Isto às vezes parece fácil, não é?
- É (em coro)
- Parece que umas conseguem engravidar de olhos fechados e outras não.
- Pois é.
- Isto é mais complicado do que se pensa.
E assim começámos uma amena cavaqueira que transformou um assunto complicado num tema simples e até agradável de discutir.
Pois bem. Ficámos a saber que as mulheres podem não ovular todos os meses, que há as que passam por essa fase apenas sete vezes ao ano. (Não fazia ideia)
Disse-nos também que os homens devem evitar os sobreaquecimentos no entre-pernas, sugerindo ao meu que deixasse, de vez em quando, a cadeira do escritório para se esticar um pouco. A propósito disso, ficámos a saber que os camionistas têm elevadas taxas de infertilidade, assim como têm também aumentado as percentagens de homens com problemas desse nível devido aos computadores portáteis que pousam no colo. (Meninas, tratem de proteger os vossos queridos!)
Mais: Aconselhou-nos a "ter relações" sobretudo no período fértil, para que aquilo que sai dele e entra em mim ganhe mais força. E dia sim, dia não. (Ou seja, nada de andar por aí a gastar "munições" a torto e a direito)
Acrescentou que devo estar atenta ao muco (o romântico visco!), alertando-me para o facto de que, quando está com a consistência de uma clara de ovo, elástica, é quando puxa os espermatozóides para o sítio certo, e que quando está pegajoso, escorraça-os. (Estamos ou não sempre a aprender?)
Propostas lúdicas também as houve: Sugeriu que, de vez em quando, saíssemos ao fim-de-semana para desanuviar.
O resto – minhas queridas, meu queridos – foi ciência.
A saber: Vou ter que fazer uma coisa cujo nome me soou muito estranho no início, mas que já aprendi a dizer em voz alta: histerosalpingografia. Histero-salpingo-grafia, assim é mais fácil. Ao que parece, é uma radiografia ao colo do útero. Dói? Acho que sim, como uma cólica menstrual forte. A médica sugeriu que tomasse uma pastilha para as dores (como um Trifene ou um Benuron) antes do exame e outra depois.
De resto, vitaminas durante dois meses, ácido fólico nos outros dois e começar já com testes de ovulação (são digitais, dão para sete dias, não são recarregáveis e custam cerca de 35 euros) dia sim, dia não.
O Joquita, como seria de esperar, vai dar a mãozinha ao manifesto para posterior análise aos bichinhos dele. E, como se não bastasse, ainda temos de levar com o peso da abstinência nos três dias que antecedem o exame.
Entretanto, liguei para o laboratório de análises e disseram-me que a histerosalpingografia (já digo isto com relativa rapidez e ar doutoral) só se pode fazer nos primeiros dez dias logo a seguir ao período. Por isso, no final do mês, aí vou eu.
O meu rapaz também já marcou o espermograma para dia 31.
Depois disso, é esperar para ver.
Entretanto, vamos fazendo pela vida. Literalmente.

quarta-feira, 5 de março de 2008

A consulta


É hoje. Às 14h30.

terça-feira, 4 de março de 2008

Ninho

Por causa da mais recente das suas belas descrições, e que bem que ela as faz (avalio-as meramente por defeito profissional), lembrei-me do meu ano de tentativas para fazer vir ao mundo uma criança.

Lembrei-me de todas as vezes em que fui egoísta e caprichosa por tentar atingir, a toda a força, o meu objectivo. E, pior do que tudo, vê-lo assim, como um objectivo.

Lembrei-me que abandonei a pílula em Janeiro, sem recomendação médica.

Lembrei-me que só visitei o ginecologista em Março e só nessa altura fiz as análises obrigatórias.

Lembrei-me que as análises deram um resultado anormalmente elevado na velocidade de sedimentação.

Lembrei-me que continuei a tomar a medicação da asma e da rinite, mesmo depois do repetido desaconselhamento médico.

Lembrei-me que em Maio, uma ecografia de rotina foi ao encontro de um pólipo na vesícula, supostamente de colesterol e que aparentemente desapareceria com o tempo.

Lembrei-me que me recomendaram que um ano depois o vigiasse. Está na altura.

Lembrei-me que em Junho foi-me detectada uma infecção urinária e mesmo assim continuei a tentar.

Lembrei-me que em Julho a infecção urinária era, afinal, um HPV (vírus do papiloma humano que pode degenerar em cancro do cólo do útero, o mesmo que há 20 anos matou a minha querida Vóvó)

Lembrei-me que a médica me sugeriu que não tentasse engravidar até ao final do tratamento, em Setembro. E continuei a não proteger-me.

Feitas as contas de forma nua e crua ao ano que passou, sinto-me como um carro com cem mil quilómetros, a dar problemas. Uns atrás dos outros.

Lembrei-me agora de tudo isso e senti-me egoísta, caprichosa e, acima de tudo, parece que percebi a mensagem.

É a cria que espera por mim. Não eu por ela.

A cria aguarda que lhe construa o melhor ninho, dentro de mim, para a poder receber.

Caminhar para trás no peso

Chegada a casa de mais um longo dia de trabalho que começa sempre às 6h00 e só termina doze horas depois, na melhor das hipóteses, pousei as tralhas numa das cadeiras da sala, lavei as mãos, num esgar mirei-me ao espelho e reparei que já tinha ali uns pelitos por cima do lábio a pedirem para sair. Em vez disso, rumei à cozinha e, com a porta do frigorífico aberta, retirei os legumes de que necessitava para fazer a sopa do dia. Depois de descascados e partidos os ditos e mergulhados numa pequena piscina de inox que, em breve, se iria transformar num jacuzzi, olhei para o relógio e constatei que ainda faltavam dez minutos para as sete.Dava tempo de ir lá abaixo à marginal, espreitar o mar, a anémona, voltar e, quem sabe, assim iniciar um etapa de caminhadas. Foi o que fiz. Reduzi o lume do fogão para o mínimo, passei o porta-moedas, os lenços de papel, a bomba da asma e o telemóvel para a carteira a tira-colo, voltei a vestir o casaco, não troquei de sapatilhas porque aquelas eram confortáveis e fiz-me à marcha.
Em oito minutos e sempre em passo rápido, ultrapassei asfalto, paralelo, gentes, semáforos, buzinadelas e cheguei ao longo passeio do Siza Vieira a que muitos já chamam de «calçadão».
Percorri-o de uma ponta a outra, sempre lesta, observando quem por mim passava, em caminhada como eu, em corrida ou nos passos pesados daqueles que já davam sinais de cansaço.
Acompanhando o tempo da actividade pelo relógio do telemóvel, obriguei-me a estar em casa ao fim de meia hora porque, diz quem sabe, esse é o tempo ideal para os que querem ver números mais simpáticos na balança. Não preciso que a justiceira seja muito condescendente comigo, basta que me devolva os clássicos 57 que tinha quando casei. Diziam que nessa altura estava muito magra, talvez, mas, apesar dos narizes torcidos dos outros, sentia-me bem do alto do meu metro e setenta e quatro. Agora ando nos 60, e aos fins-de-semana sou catapultada para os 62, mas vou tentar andar para trás no peso, nem que seja até aos 59. Só para me mostrar que ainda sou capaz de fazer alguma coisa por mim abaixo. Mas, agora que penso nisso, as caminhadas por si só não são suficientes. Para os resultados serem visíveis, vou ter de aprender a fechar a boca. A minha mãe que me oiça!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Enquanto a encomenda não chega...

... e não me obriga a gastar este mundo e o outro em fraldas, babetes, chupetas e demais objectos de puericultura, vou perdendo a cabeça com mimos para mim. Ui.