sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Alma

Nada de carta do hospital, nada de exames, nada de tratamentos. Nada de tudo.
Estagnámos. Estancámos. Embatemos em mais um obstáculo e lá continuamos como os bonequinhos dos jogos, a dar passos em frente, mas sem sair do lugar porque embatemos num muro e não encontrámos ainda a tecla que nos vai fazer saltar e passar de nível.
E o jogo ainda nem sequer começou.
O alento também conheceu melhores dias. Tiraram-mo esta semana e por questiúnculas de trabalho, imagine-se! Um tema que deveria ser de somenos importância, mas não é, sobretudo quando se dá o melhor que se pode e sabe numa nova missão, quando os de fora nos congratulam pelo resultado e, ao contrário do que seria de esperar, se leva uma lapada daquelas bem dadas nas trombas com frases como: "falta alma ao trabalho!". "Então falta tudo", ripostei. "Não", explicaram-me, "o balão não está vazio, se não não havia trabalho". Mas falta-lhe a alma. É a frase do momento no meu consciente, inconsciente e subconsciente. É ela que me atormenta nos últimos dias. Isso e saber que posso não ser capaz de encontrar a tal alma que me pedem.
Já recebi 30 mil explicações para o que foi dito, mas nenhuma suficientemente eficaz para me devolver a leveza.
Lá chegarei.

Bom fim-de-semana.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Robinsons Crusoe

Com as barbas que entretanto ganhámos já estamos habilitados a participar num filme sobre náufragos esquecidos em ilhas desertas.
A carta com a autorização do hospital parece estar como esta encomenda. Extraviada.

Aguardamos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Verde, da cor da esperança

O final da semana vem com o tradicional balanço.
Lá por casa está tudo tranquilo e ficou mais ainda depois de a médica de família ter respondido à chamada e revelado que a carta com a autorização do hospital Pedro Hispano para a realização dos tais exames estava a caminho. Depois, só há que fazer a devida recolha de sangue e esperar pelos resultados para, por fim, podermos agendar a conversa que vai definir o calendário do tratamento.
Enquanto isso, e pela primeira vez neste ano e picos de tentativas, recebi os dias difíceis com a naturalidade de quem já sabe com o que conta. Parece que tudo ganhou nova cor. Dizem que é verde, a da esperança, talvez seja. Sei apenas que agora já não há cálculos aos dias e às horas, pastilhas, temperaturas, nem testes de gravidez aos primeiros 30 segundos de atraso menstrual. Já nem sequer me dou ao trabalho de saber se ovulo ou não.
É que depois de me ser anunciado que o alcançar do nosso objectivo dificilmente passará pela cama, a vida a dois voltou a fazer-se como se impõe, em função do nosso quotidiano, das nossas experiências e, acima de tudo, das nossas vontades. Já não é preciso esperar para “investir” em força em certos dias, nem andar a “investir” a torto e a direito, sobretudo porque estes são tempos de crise!
Agora é quando queremos e podemos porque ficámos sem o peso de ter a descendência dependente dos nossos devaneios. Os herdeiros virão seguramente, mas pelas mãos de rigorosos métodos científicos, com múltiplos óvulos e super-espermatozóides escolhidos à lupa, embriões bonitos e bem depositados na confortável barriga da mamã. Campeões do mundo para os nossos braços.
Por isso, o equilíbrio natural lá de casa foi resposto, porém, com um novo lema: A cama para a diversão, a seringa para a procriação.

E assim aguardamos tranquilamente.

Bom fim-de-semana.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O entrave da praxe

Continuamos sem ter muito para contar porque, afinal, como se esperava, isto da Saúde Pública é mais o Serviço Nacional do Desespero.
Na consulta de há uma semana com uma médica de familia "nova e gira", o nosso caso foi-lhe apresentado com todo o pormenor para que pudesse dar o devido seguimento. Mas à questão: "Doutora, o que é o cariotipo?", a resposta: "Não sei, não me lembro". Muito mais confiante face ao conhecimento clínico demonstrado, o rapaz prosseguiu pedindo o simples P1 para a consulta no S. João. Entrave - "Papel? Que papel? Papel?" -, o clássico entrave.
Por estarmos registados num centro de saúde adstrito ao hospital Pedro Hispano, há um imbróglio que só deve estar resolvido lá para Novembro. Isto porque o centro de saúde tem de enviar ao nosso hospital o pedido de autorização para a realização dos exames que apenas se fazem na outra unidade. Depois, "nunca antes de um mês", a resposta surgirá.
Não é fácil, isto de haver hospitais com personalidades tão vincadas. Parece que levam a mal se os preterirmos...
Mesmo assim, a doutora, a tal "nova e gira", prometeu tratar do caso e telefonar amanhã com uma resposta. Vamos ver se vem o telefonema e também a resposta.
Quanto aos resultados dos outros exames vão chegando a conta-gotas e, pelo que tiramos de letra do «mediquês», está tudo normal. Além disso, é giro saber que as escarafunchadelas dos médicos, por mais invasivas e humilhantes que sejam, conseguem ter nomes técnicos possantes.
Aguardamos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estamos bem

O bicho mau (e feio) já se escapou dos nossos corpos à força de muita actividade sanitária. Terá sido levado na torrente accionada pelo furacão autoclismo e deixou-nos esparramados de desgaste físico.
Os primeiros resultados dos exames começaram ontem a chegar à caixa do correio e, a avaliar pelos parâmetros, parece estarem dentro da normalidade. Se bem que não haja grande diferença entre olhar para aquilo ou para o «Pravda». Diria que nem a D. Alcina Lameiras, que não nega uma ciência que à partida desconhece, seria menina para adivinhar o que ali é mencionado. Vale-nos o facto de não ter asteriscos, esses pontos finais despenteados que costumam indicar anomalias.

Bom fim-de-semana.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O bicho mau

Enquanto o resultado dos exames não chega, repartimos não só a ansiedade, mas também as maravilhas de um vírus chamado gastroenterite. Essa coisa que só me lembro de me ter sido apresentada no dia em que os meus sobrinhos passaram a frequentar estabelecimentos de ensino e que já me invadiu por diversas vezes e de inúmeras formas. Todas elas desagradáveis, exceptuando o facto de baixar uns números na balança. Porém, o tom acinzentando com que reveste a pele faz com que o único benefício não seja suficiente para haver lucro neste negócio.
Pois bem, desta vez o safardana apoderou-se de mim depois do contacto com a filha de um amigo meu. Toquei-lhe com uma carícia na face (e foi esta a paga), o meu sobrinho também lhe tocou, mas provavelmente com um sopapo nas bochechas, e o meu rapaz tocou-me a mim. Foi precisamente por esta ordem que o bicharoco passou pelas nossas portas de entrada. Estive de molho de sábado para domingo, o pequenito de domingo para segunda e hoje foi a vez de o meu marido se juntar ao grupo de imitadores da criancinha do Poltergeist: Engole chá, devolve-o. Engole água, devolve-a. Bolachinha de água e sal, aqui vai ela. Só falta aprender a girar a cabeça.
E assim vamos, com a cabeça entre as orelhas, por enquanto. Dá para distrair. Enquanto esvaziamos as vísceras, libertamo-nos dos males e esquecemos o resto.
Continuamos a aguardar serenamente, mas agora com mais idas à casa-de-banho!