terça-feira, 8 de abril de 2008

Enquanto aguardamos pelo resultado dos exames

Olho à minha volta e penso que anda meio mundo a copular e outro meio a carregar o peso das cópulas. É só líbido. Isso e homens tão enganadinhos. Estarão, provavelmente, a gozar os seus últimos momentos de verdadeiro prazer.
É notável que em tantos anos de vida na Terra, ao lado das mulheres, ainda não se tenham apercebido da extraordinária capacidade das suas senhoras de perseguir os objectivos. Em boa verdade se diga que muitos deles ainda não "realizaram" que cumprem apenas a missão de inseminadores. Isto a avaliar pelo que vejo a minha volta, claro está.
Elas, as que estão a minha volta, não param na busca dos seus objectivos.
Corpos torneados escondem o sangue frio das serpentes que se enrolam no corpo deles. No entanto, antes do acto, elas já tiraram temperaturas, avaliaram mucos, contaram dias de ciclo, tomaram ácido fólico e até calcularam na internet a data prevista do parto originado por aquele momento sexual.
Eles, quais virgens desprotegidas, colocam apenas os sapatos a arejar na varanda e deixam-se levar pela tornado que lhes invade toda a propriedade.
Felizes daqueles que, como o homem que testemunha a minha vida, são obrigados a estes rituais durante meses a fio. Anos a fio, na melhor das hipóteses. Tempos incessantes de sexo regular, mesmo que de qualidade duvidosa e que, quase sem excepção, termina com mulheres de pernas ao alto tentando com isso conduzir o líquido precioso ao Santo Graal.
Depois...
Olho à minha volta e observo aquelas que já são mães, mas reparo, sobretudo, naqueles que já são pais. Elas, felizes, apaixonadas pelos rebentos, mesmo que as crias já tenham atingido a maioridade, é de descanso que mais reclamam ao final do dia. Os assédios dos companheiros são sacudidos. Elas, segundo eles, fecham os olhos e caem no mais profundo dos sonos.
Eles, também segundo eles, pregam as vistas nos jogos de computador, na televisão, nos livros que agora lhes fazem companhia.
Eles recordarão vezes sem conta os dias em que elas, com objectivos procriativos, sabem-no agora, os assediavam ou se deixavam levar pela emoção.
Eles sonharão amiúde com o local que um dia os uniu pelo prazer, mas que os separou assim que por lá deixou que passasse uma criança.

(Ia começar a escrever uma coisa banal sobre o facto de estarmos à espera dos resultados dos exames e de ter começado com os testes de ovulação e apercebi-me que, apesar de tudo, já não vou à internet ver os cálculos de dias férteis, nem nos "aplicamos mais" nessas datas. Sinto que as coisas estão agora a fluir com naturalidade e, acima de tudo, com a vontade expressa dos dois. Apenas pela vontade. E foi assim que me lembrei do resto…)

4 comentários:

J. disse...

Quantas vezes sou acusada disso...
O M. diz que nunca tive tanta vontade de sexo (programado) como agora...
Dado os ultimos desenvolvimentos também estou como tu. Apenas quando nos apetece, aos 2!

Mar disse...

Também escrevi isto aqui para memória póstuma. Para um dia, quando estiver do outro lado da barricado, me lembrar de não me esquecer de namorar. Beijinhos.

Anónimo disse...

Ainda que pudesses esquecer (e eu sei que não), estarei sempre aqui para te lembrar, com todo o carinho.
Joca

Ana disse...

Eu bem tento disfarçar os dias em que convém pelo meio dos dias em que apetece.
Mas é por essas e por outras que às vezes acho que do lado de lá há quem faça figas para os testes continuarem a dar negativos... ;)

(adorei o texto!)