quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A janela com o traço cor-de-rosa

Os dias chatos do mês já deviam ter surgido. Vieram, na vez deles, umas dores terríveis nos rins, as habituais, que costumam pressagiar a chegada agora indesejada. Estranhei que não se fizessem acompanhar pelo peso nas pernas. Enchi-me de certezas de que não valia a pena começar a alimentar esperanças porque aquelas dores estavam a avisar-me do que vinha aí. Mas, e o peso nas pernas? Nada. Era isso, essa ausência daquele sintoma do costume, que me fazia pensar "se!".
Um dia de atraso e eu a mentalizar-me, ou melhor, a industriar-me de que não valia a pena gastar dinheiro em testes. Mais outro dia e a emotividade venceu a razão. 11,45 euros na parafarmácia, às 9h01. A senhora que me atendeu perguntou-me simpaticamente quantos dias tinha de atraso. Sem me sentir invadida respondi-lhe: "Dois". Encorrilhou o nariz e, cheia de cautelas, disse-me que "se calhar ainda é cedo".
Dando claramente a entender que me estava a borrifar para os conselhos dela, perguntei-lhe se podia fazer o teste a qualquer hora do dia. "Uma vez que o atraso ainda é pequeno, talvez seja melhor fazer na primeira urina da manhã para ser mais concentrado. Para não dar um falso negativo". Era isso que eu não queria, nem um falso e muito menos um verdadeiro negativo. Mas serviu-me de pouco o derradeiro conselho:"Mesmo que esteja muito ansiosa tente aguentar até amanhã".
Não aguentei. Preferi não esperar. Uma vez mais com as mãos a tremer, desembrulhei o teste (mais um que não conhecia) e, em menos tempo do que uma música pop, a desilusão voltou a sorrir-me. A janelinha que devia estar preenchida com uma risca cor-de-rosa voltava a aparecer em branco.
É irónico pensar que quando te quero, não vens. Irónico e sádico.
Há dez anos, quando não te desejava, nem te podia ter, vieste. Surgiste cor-de-rosa naquela janela. Expulsei-te de mim porque era demasiado cedo, porque não era com a pessoa certa, porque sim. Mas antes de te mandar embora, para ter a certeza de que estavas aí, ainda te vi. Uma cabeça de alfinete dentro de mim. Foi nessa mesma altura que fiquei a saber que quando chegas, trazes muito apetite, uns seios inchados e doridos, enjôos e até vómitos.
Desde então nunca mais te senti porque também não te quis.
Agora rogo para que voltes. Não sei, porém, se vou voltar a ver-te naquela janela cor-de-rosa. Hoje não vi.

3 comentários:

Mário Barros disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

A janela cor-de-rosa vai surgir. Sem o verbo na condicional: não é "surgirá", mas sim "vai surgir". Tenho a certeza disso. Não quis o que tenho, não quiseste e não chegaste a ter. Agora, queremos os dois. A união de vontades e de tudo o mais só pode ter um resultado. Vais ver uma cabeça de alfinete, sim. E muito mais do que isso. Não escapas à noites mal dormidas, não. Beijo!
Quim

Ana disse...

inspira...expira...e cruza os dedos!