quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Maldito fim de dia

Ontem o dia não podia ter acabado da pior maneira, sobretudo, por causa da passagem pelo centro de saúde. Uma visita motivada pela infecção num dedo do meu rapaz. Aproveitei e deixei lá uma carta que tinha escrito (para ser mais pessoal e também para demonstrar o reconhecimento) à minha médica de família.
Enquanto o rapaz foi fazer o penso, dirigi-me à recepção para deixar a missiva. Pensei que era só entregar e já estava, mas não, deu direito a interrogatório: "É para que efeito?" AAAARRRGGHHH.
Tive vontade de dizer que se a carta estava fechada era por alguma razão, ou, "tenha calma, minha senhora, não é uma bomba", mas não. Como parva que sou nestas coisas disse logo: "É para dar conhecimento de uns exames".
- "É um relatório de exames? Quando for assim, deve ligar à doutora...", continuou a recepcionista.
Expliquei que era uma carta escrita por mim, com todas essas explicações e lá acabei por dizer que continha o resultado de uns betas que tinha feito. Bah.
Posto isto dirigi-me à máquina de café e passou por mim, no sentido contrário, uma rapariga de bata que, vim a descobrir depois, era a minha médica, cuja cara já não me recordava.
Pouco depois, ainda junto à máquina de cafés, comecei a ouvir da recepção uma conversa que me era familiar... sobre betas e sobre gravidezes, com uma imbecil a acrescentar chavões como: "Agora está estipulado que as pessoas casam e passado dois anos têm de ter filhos" e coisas do género. Apercebi-me que a conversa estava animada e, pelos vistos, como eu era o motivo da chacota, decidi entrar na sala e sentar-me à frente delas.
Pouco depois o burburinho acabou, mas ainda ouvi um quase imperceptível: "É aquela senhora lá atrás". Comprovei que tinha dado azo a uma bonita conversa de sala de espera. Por momentos ainda acreditei que depois disto a médica viesse ter comigo, mas não. Deixou a recepção de rabinho entre as pernas e seguiu de imediato para o gabinete. Espero sinceramente que tenha regressado ao trabalho com uma enorme sensação de culpa e de vergonha. Se não, farei questão de a transmitir quando voltarmos a falar.
Um dia depois ainda sinto raiva pela falta de sensibilidade desta gente que não percebe que a infertilidade já é um peso demasiado grande para levar aos ombros e, mesmo assim, ainda tenta sobrecarregar-nos com a sua pequenez humana.
Porém, como diz o ditado: Quem ri por último, ri melhor.
Um dia sou eu, mas amanhã podem ser elas.

3 comentários:

Susana Rodrigues disse...

É inacreditável. Por isso é que gosto mais de médicos homens. Essa classe já é a corja que é e quando se trata de mulherio, pior um pouco. Que estúpidas!!!

Maruja disse...

Oh amiga, és tu no Centro de Saúde e eu na Maternidade Alfredo da Costa, com a agravante que os comentários vêm dos médicos!! Temos que ter uma alma enorme...

Dali disse...

Que absurdo. A falta de respeito de seres humanos com outros seres humanos é cada vez mais notável, e sempre parece ser mais forte onde há maior necessidade de que seja muito mais fortificada, como no caso dos médicos e outras áreas essenciais de atendimento "humano". Lamentável.