Foi preciso respirar bem fundo para chegar aqui e escrever este texto. Não é fácil recordar o chapadão que recebemos no dia ensolarado em que nós e os médicos achámos que tudo ia correr bem.
Na sexta-feira, 13, logo às 7h30, chegámos felizes e contentes à clínica onde já éramos esperados pelos simpáticos e sorridentes médico, biólogo e enfermeira. Um deles avisou-me que iam pôr-me a dormir por três minutos para proceder à punção, mas que depois já estaria desperta e pronta para trabalhar, se assim o entendesse.
Ainda brinquei dizendo que, àquela hora, era um desperdício gastar uma anestesia em mim apenas para me pôr a dormir. Que bastava que me deixassem encostar um bocadinho e veriam como eu cairia no mais profundo dos sonos.
Lá veio a agulha, seguida do anestesista que me fez umas perguntas da praxe – sobre a minha asma e coisas do género – e logo depois o prometido sono.
O acordar foi suave e cheio de sorrisos. Sete ovócitos já estavam do lado de fora! “Sete?”, perguntei. “Isso é bom, não é?” É, confirmaram os doutores.
Enquanto isso, enquanto durava esse doce recobro, o meu marido seguiu com o frasquinho do costume para a colheita. Pouco depois estava de volta e trazia mais um sorriso. Colocou-o nas mãos do biólogo que rumou imediatamente ao laboratório para analisar a amostra recolhida.
Foi aí que vieram as más notícias.
Era necessário fazer uma nova colheita porque naquela não tinham sido detectados espermatozóides vivos e, segundo o especialista, às vezes acontece que as segundas colheitas são melhores do que as primeiras. E agora desculpem-me por abreviar a descrição do que se seguiu, mas não me apetece muito recordar aqueles momentos. A segunda colheita também foi insuficiente e obrigou a uma terceira, equacionando-se já a possibilidade de uma biopsia testicular. “É a primeira vez que isto me acontece”, confessava-nos o biólogo. “Nunca imaginei que depois do espermograma de há quatro meses os valores voltassem a descer para estes níveis. Se eu tivesse adivinhado, tinha congelado os espermatozóides!”, prosseguia desalentado. "É sexta-feira, 13..."
Era meio-dia e ainda estávamos no centro, mas agora, sem sorrisos, nem grandes esperanças até porque já se falava em fim de ciclo e em esperma de dadores, por mim recusado à partida. Quero ter um filho com este homem, não com outro. Não faz sentido.
À noite soubemos que dos sete ovócitos, apenas um não tinha sido utilizado, já que, do mal o menos, conseguiu-se pescar seis espermatozóides e microinjectá-los.
No dia seguinte, no sábado, um estava fecundado e havia a possibilidade de um segundo.
Ao final do dia de domingo veio a certeza da existência de um embrião. É esse que hoje vou receber. Um guerreiro como nós que espero conseguir transportar nos nove meses que começam hoje.